Hoje de manhã recebi um telefonema de uma colega de CCA, é a primeira vez que isso acontece. Ela irá dar uma entrevista hoje à tarde e ligou para conversar e para dizer o horário e a rádio. E também para dizer que plantou a idéia de recomeçar um grupo do CCA desativado, num bairro nobre da minha cidade. Foi tão estranho conversar com alguém do CCA no meu dia a dia, no meu trabalho! Sei que sou comedora compulsiva anônima, já tenho consciência disso, mas daí a participar ativamente do grupo e encarar que estou e sou membro, é... esquisito? Acho que o termo adequado é esse mesmo. Conversei com ela, disse uma coisa que tem sentido e que eu não havia pensado ainda:
Quando se fala de vigilantes do peso, se fala de gordinhos felizes querendo emagrecer, de balança, de meta, de reeducação alimentar, mas não se sente conotação negativa, e descobri porque, porque não se usa a palavra doença, não se usa a palavra não ter cura, não se usa a palavra para o resto da vida, não se usa a palavra abstinência, não fica claro que temos uma doença e que ela não tem cura.
Quando se fala de vigilantes do peso, se fala de gordinhos felizes querendo emagrecer, de balança, de meta, de reeducação alimentar, mas não se sente conotação negativa, e descobri porque, porque não se usa a palavra doença, não se usa a palavra não ter cura, não se usa a palavra para o resto da vida, não se usa a palavra abstinência, não fica claro que temos uma doença e que ela não tem cura.
O CCA não adota essa filosofia, mostra a verdade nua e crua, mostra o caminho a seguir, mas não diz que será fácil ou sem sofrimento. Ao contrário, chama a compulsão de doença, entende que no início haverá, sim, sofrimento e muito luta interior, que a batalha é para o resto da vida, que é necessário abstinência do que deflagra a compulsão, mas que existe esperança, que nós seremos capazes, que existem ferramentas e apoio, que a luta não será fácil, mas que é possível . E, para quem pode, as reuniões do CCA são perfeitas, pois lá somos ouvidos e falamos com respeito e acolhimento, sem orientadora dizendo que é fácil, que é bobo. Mas sim, que é possível, juntos conseguimos, o CCA está lá, é que formado por pessoas iguais a nós, iguais a mim.
O CCA não enfeita a realidade, deixa claro que o controle será para sempre, que temos uma doença que não tem cura, mas também nos mostra que, se recairmos, não há do que se envergonhar, basta limpar a poeira e recomeçar.
Acredito que cheguei, finalmente, à maturidade de não querer mais dourar a pílula, à maturidade de querer encarar o meu problema sem esperar soluções mágicas.
Não acho que está sendo ou que será fácil. Amo, adoro doces, tenho uma relação de amor com o açúcar, e terminar esse casamento é difícil, dificílimo, mas extremamente necessário. Pela minha vida, pela minha saúde, pela minha alegria em viver, pela minha sanidade mental.
Não há um dia sequer que não deseje comer doces, me deliciar e afogar a minha vontade em chocolate, torta, pão doce, trufa ou qualquer outra delícia, só que o preço a ser pago é exorbitante: pago com a minha vontade de viver, e isso não é justo. Não quero pagar o preço.
Mais 24 horas.
O CCA não enfeita a realidade, deixa claro que o controle será para sempre, que temos uma doença que não tem cura, mas também nos mostra que, se recairmos, não há do que se envergonhar, basta limpar a poeira e recomeçar.
Acredito que cheguei, finalmente, à maturidade de não querer mais dourar a pílula, à maturidade de querer encarar o meu problema sem esperar soluções mágicas.
Não acho que está sendo ou que será fácil. Amo, adoro doces, tenho uma relação de amor com o açúcar, e terminar esse casamento é difícil, dificílimo, mas extremamente necessário. Pela minha vida, pela minha saúde, pela minha alegria em viver, pela minha sanidade mental.
Não há um dia sequer que não deseje comer doces, me deliciar e afogar a minha vontade em chocolate, torta, pão doce, trufa ou qualquer outra delícia, só que o preço a ser pago é exorbitante: pago com a minha vontade de viver, e isso não é justo. Não quero pagar o preço.
Mais 24 horas.
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