terça-feira, 10 de agosto de 2010

A primeira semana de abstinência!


Hoje de manhã recebi um telefonema de uma colega de CCA, é a primeira vez que isso acontece. Ela irá dar uma entrevista hoje à tarde e ligou para conversar e para dizer o horário e a rádio. E também para dizer que plantou a idéia de recomeçar um grupo do CCA desativado, num bairro nobre da minha cidade. Foi tão estranho conversar com alguém do CCA no meu dia a dia, no meu trabalho! Sei que sou comedora compulsiva anônima, já tenho consciência disso, mas daí a participar ativamente do grupo e encarar que estou e sou membro, é... esquisito? Acho que o termo adequado é esse mesmo. Conversei com ela, disse uma coisa que tem sentido e que eu não havia pensado ainda:
Quando se fala de vigilantes do peso, se fala de gordinhos felizes querendo emagrecer, de balança, de meta, de reeducação alimentar, mas não se sente conotação negativa, e descobri porque, porque não se usa a palavra doença, não se usa a palavra não ter cura, não se usa a palavra para o resto da vida, não se usa a palavra abstinência, não fica claro que temos uma doença e que ela não tem cura.
O CCA não adota essa filosofia, mostra a verdade nua e crua, mostra o caminho a seguir, mas não diz que será fácil ou sem sofrimento. Ao contrário, chama a compulsão de doença, entende que no início haverá, sim, sofrimento e muito luta interior, que a batalha é para o resto da vida, que é necessário abstinência do que deflagra a compulsão, mas que existe esperança, que nós seremos capazes, que existem ferramentas e apoio, que a luta não será fácil, mas que é possível . E, para quem pode, as reuniões do CCA são perfeitas, pois lá somos ouvidos e falamos com respeito e acolhimento, sem orientadora dizendo que é fácil, que é bobo. Mas sim, que é possível, juntos conseguimos, o CCA está lá, é que formado por pessoas iguais a nós, iguais a mim.
O CCA não enfeita a realidade, deixa claro que o controle será para sempre, que temos uma doença que não tem cura, mas também nos mostra que, se recairmos, não há do que se envergonhar, basta limpar a poeira e recomeçar.
Acredito que cheguei, finalmente, à maturidade de não querer mais dourar a pílula, à maturidade de querer encarar o meu problema sem esperar soluções mágicas.
Não acho que está sendo ou que será fácil. Amo, adoro doces, tenho uma relação de amor com o açúcar, e terminar esse casamento é difícil, dificílimo, mas extremamente necessário. Pela minha vida, pela minha saúde, pela minha alegria em viver, pela minha sanidade mental.
Não há um dia sequer que não deseje comer doces, me deliciar e afogar a minha vontade em chocolate, torta, pão doce, trufa ou qualquer outra delícia, só que o preço a ser pago é exorbitante: pago com a minha vontade de viver, e isso não é justo. Não quero pagar o preço.
Mais 24 horas.

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