terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Psiquiatra


Fui ao psiquiatra hoje de manhã logo cedo. Gostei dele.
Calmo, atencioso, marcou às 7h e chegou no consultório 6h45 da manhã. Fui a segunda a ser atendida, saí de lá umas 7h30.
Expliquei o que venho sentindo:
Insegurança.
Ansiedade.
Compulsão alimentar. Compulsão à mil, mesmo sabendo que deveria estar preocupada em sair da diabetes gestacional e sei que não estou fazendo nada para deixar de ficar diabética para sempre.
Falei para ele que tinha aberto a porta para a compulsão para que ela me ajudasse a superar a tristeza que andava sentindo. E, de fato, em relação ao meu ânimo me sinto relativamente bem.
Sábado voltei a trabalhar na loja de meus pais, mas tive um momento em que me isolei para chorar, pois era exatamente daquilo que eu estava fugindo: os clientes gostam de ser ouvidos (e eu sou um bom ouvido), me contam suas vidas, querem que eu participe de suas conversas e os ouça, e eu ainda não estava preparada para aquilo, para me doar, para ouvir, para sorrir e encorajar. É quase engraçado enxergar o quanto os clientes precisam de alguém que os ouça, mesmo que seja apenas no tempo em que esperam que recebamos a conta ou enquanto esperam alguém se servir. Mas não importa, terei que continuar indo e ponto.
Conversamos um pouco. Ele disse que o meu esclarecimento e consciência sobre o que está acontecendo é bom, mas que isso pode me ajudar, ou não.
É, de fato tenho consciência do mecanismo de auto-punição, auto-destruição, mas tenho mais consciência ainda de que não estou conseguindo desligá-lo sozinha.
Então, ele receitou fluoxetina 20mg, para tomar pela manhã, para ajudar a diminuir a sensação de ansiedade e insegurança.
E associou bupropiona, 150 mg, para tomar um comprimido após o almoço para ajudar a controlar a compulsão alimentar.
Os dois medicamentos irão aumentar as minhas despesas em R$100,00 reais por mês.
Vamos ver, vou pagar para saber a resposta.
Espero realmente que me ajudem, caso contrário, nem eu sei onde vou parar. Aliás, até sei, mas não gosto de enxergar esse futuro sombrio.
Vou batalhar junto com os medicamentos, vou apostar em mim. Eu espero.
Minha filhota linda amada chega hoje depois de um mês de merecidas férias na praia. Ela chegará feliz e vitoriosa pelo vestibular e é claro que eu fico feliz junto. Mas eu posso negar para todos, menos para mim: ela chegar agora, num momento em que me debato em minha neuras, me sobrecarregará. Ela vai chegar cheia de novidades e conversaremos durante horas, e durante algum tempo adorarei isso, depois, inevitavelmente, me sentirei dando mais do que posso dar neste momento. Ainda bem que virão as prévias de carnaval e tantas outras festas que a manterão ocupada enquanto eu organizo minha cabeça.
Não estou louca, só um pouco desequilibrada.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Um dia em paz

Na sexta à noite fui recebida com muito carinho e amor por meu noivo. Ter explicado a ele o que tenho sentido, explicar que não se trata de rejeição, e sim de depressão leve e ansiedade persistente, e fazer isso o trouxe para bem perto de mim.
E eu aceitei a ajuda, o carinho e o amor.
Ficamos juntos, assistimos filmes, namoramos, me senti segura, consegui dormir de tarde, relaxar da ansiedade e dos pensamentos negativos, e do medo e insegurança.
Ontem namoramos, ficamos abraçados, e me senti livre para fazer amor, me senti livre para sentir prazer e dar prazer.
Ontem me propus a não comer comidas com açúcar, me propus a não deixar a compulsão me dominar. E consegui.
Saí para comprar uma calça para caminhar porque as que a costureira fez ficaram um pouco apertadas, comprei uma ótima, era a única na loja, mas está chovendo o final de semana inteiro e tentarei começar na segunda-feira, assim espero.
Obrigada e, por favor, me ajude a conseguir hoje novamente. Acordei, agradeci, afastei os pensamentos negativos, e estou aqui, um pouco ansiosa, mas em paz e cheia de boa vontade para começar um novo dia.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Depressão, eu? É, talvez. Sim.

Ontem conversei com meu noivo, pedi a ele que não se sentisse escanteado, que não é nada disso.
Expliquei que o que estou sentindo é mais forte que eu, que está acima de mim e não estou conseguindo controlar.
Ele chegou mais perto de mim, e está tentando adiantar a consulta com o psiquiatra, pois só consegui vaga para 15 de fevereiro. É muito longe.
Falei que vou precisar sim de antidepressivo, sozinha não estou conseguindo sair. E além disso a compulsão por comida está enlouquecida, quando chega à noite meus pés estão com bastante edema, acho que por todo esse descontrole.
Agora, enquanto escrevo, estou me sentindo bem, mas há pouco não conseguia me sentir em paz comigo.
Para quem só me conhece socialmente, e até para algumas amigas, estou ótima. Não estou.
Não consigo sequer fazer amor, me sinto tensa, não consigo sentir prazer, sinto medo de engravidar, mesmo com métodos anticoncepcionais.
O que mais me preocupa é esse mecanismo inconsciente de me desligar das pessoas que mais me conhecem, que sabem o momento que estou passando.
Meu pai está sobrecarregado com problemas da loja, mas sinto sua delicadeza comigo em pequenos cuidados, que na verdade ele sempre teve. E eu choro de noite, depois que me fecho em meu quarto. Tento, ao abrir a porta, aparentar normalidade.
Sobre minha filha, graças a Deus que está na casa de uma amiga na praia até o final do mês. Conviver com ela dentro de casa agora, toda hora tendo acesso a mim, ia ser difícil. Penso nela, mas não consigo senti-la perto, não porque não a ame, amo e muito, mas porque, mesmo sem querer, quero me distanciar.
Sobre meu noivo, que é a pessoa que está mais próxima de mim, me mostro e ao mesmo tempo sinto uma enorme vontade, quase irresistível, de me isolar dele. Preciso desesperadamente me prender a ele, mas minha vontade é só me manter distante.
É como se irracionalmente eu estivesse me distanciando de quem realmente me conhece.
Por que? Para que?
Não sei, estou muito louca.
Mas não me entrego a isso, eu espero que não. E daqui a poucos dias terei a ajuda de antidepressivo.
É isso.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Crise existencial


Vou, volto, saio do lugar e volto para o lugar de sempre.
Que porra eu tenho?
Ontem, na terapia, minha terapeuta me disse que eu tenho que encontrar o que me falta, o que eu quero. Sem me forçar, mas tentando me completar.
Não sei.
Eu disse a ela:
- Minha filha passou no vestibular da federal num curso concorrido, e isso me deixou feliz, mas não me completou.
- Cheguei no trabalho e fui tão bem recebida! Meus colegas foram almoçar comigo dois dias, me sinto plenamente aceita. Mas também não é isso.
- O problema não é no meu relacionamento, já acabei outros relacionamentos por esse mesmo sentimento em mim, mas eram relações que não valiam a pena, fiz certo em acabar. Não é isso.
- Estudar para um novo concurso e passar? Vai ser bom, mas não é só isso.
É ALGO MUITO MAIS PROFUNDO E ESSENCIAL.
Tenho me sentido sozinha, não quando estou acompanhada, mas principalmente quando estou sozinha comigo mesma. Minha companhia não está boa para mim.
Sinto solidão, falta. MAS DE QUÊ?
Sinto medo, medo de ficar completamente sozinha. Racionalmente sei que isso não vai acontecer, mas então porque me sinto assim?
Na terça fui com minha amiga e sua filha, cujo pai faleceu no sábado, comer caranguejo, eu disse a ela que podia beber o que quisesse que eu dirigiria. Rimos, choramos, nos divertimos, nos relembramos de seu pai. Acho que fui ótima companhia para as duas. E quando cheguei em casa me deu uma imensa tristeza porque ela vai morar em outra cidade, a duas horas da minha. Me deu uma sensação de perda irreparável e chorei de me acabar. Cheguei a ligar para meu noivo e minha filha ainda choramingando, os dois até acharam que eu tinha bebido e estava emotiva. Nada disso, é um vazio inexplicável.
Não estou suportando perdas. Mas também não é só isso.
Sinto vontade de nem sei o quê. Começo a identificar umas bobagens, mas ainda estou longe de saber o que mais tem nesses meus sentimentos.
Minha terapeuta conversou comigo sobre eu sempre aparentar serenidade e calma para os outros, sobre eu ser reservada e ser um excelente ouvido, que todos gostam de contar coisas a mim, que sei ouvir. Falou comigo também sobre minha reserva, sobre eu não me mostrar , sobre não contar coisas sobre mim, sobre eu, na maioria das vezes, ter me deixado conduzir pelos outros sobre o que deveria fazer, e sobre isso vir mudando de alguns anos para cá.
Ela acha que um dos pontos reside em eu estar tomando as rédeas da minha vida, de estar aprendendo a falar, a me impor, a deixar de apenas ser ouvido, sobre eu me soltar sobre o que sinto, sem ter medo. Sei que venho mudando sobre essas coisas. Antes, as pessoas com quem eu me abria eram meu noivo e, algumas vezes, com minha filha. Para outras pessoas eu apenas ouvia, aconselhava, deixava que dividissem comigo seus problemas e suas vidas, mas eu me colocava acima disso, como se não pudesse me expor, e ficava triste quando não era bem interpretada.
Estou tentando me abrir, mostrar minhas fraquezas, sem ser sempre tão ponderada, calma, sensata. Eu não sou só isso, e representar até para mim mesma está me cansando. Sou gente, amiga, ponderada, boa ouvinte, mas quero aprender a me abrir, a gritar, quero também saber enlouquecer. Mas também não é só isso.
Tenho uma sensação de perda não sei de quê, medo de minha vida passar muito rápido. Mas também não é só isso.
Minha terapeuta diz que, de fato, eu posso estar deprimida, eu disse a ela que marquei psiquiatra para ver se vou precisar de medicamentos, ou não, para sair disso.
Conversamos e expliquei que quando estou acompanhada, fazendo muito pouco esforço (e tenho feito bastante), participo, sou alegre, aceito e sou aceita com facilidade. Me sinto querida. Mas quando estou sozinha tenho que arranjar o que fazer para driblar o vazio e a tristeza, e também tenho tentado fazer isso.
Ela afirma que vê essa minha crise existencial como algo construtivo, como uma mudança interior que irá mudar as coisas exteriormente, e disse que sim, isso dói, e dói mesmo.
Ela me pediu para encarar e sentir, sem medo, sem cobranças, me aprofundando na busca de respostas, mas sem me forçar. Tenho tentado isso.
Em uma coisa eu discordo dela, ela diz que minha compulsão alimentar está em prol de tudo isso que estou passando, e eu concordo, mas acredito que a compulsão alimentar está além disso, ela se alimenta sozinha. Ela, por si só, é uma doença, independente da diabetes ou de eu estar deprimida. Ela, por si só, é o maior risco para a minha vida.
Acabo de ler, acho que pela primeira vez realmente me enxergando completamente nele, o primeiro capítulo do livro do CCA, que fala do primeiro passo. Ao ler, eu estava lá, o livro falava sobre mim. Assim como para milhões de comedores compulsivos anônimos.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Nova etapa

Recomeço a trabalhar hoje, acordei antes da hora, estou um pouco ansiosa. Sei que não é necessário isso mas, como disse, esse adjetivo grudou em mim e não quer sair.
Hoje, lá no trabalho, vou almoçar com duas amigas, assim matamos a saudade e colocamos os assuntos (e também fofocas) em dia.
No sábado à tarde faleceu meu segundo padrinho, e pai de uma das minhas melhores amigas. Ele estava no hospital há mais de um mês e, na verdade, estávamos esperando que isso acontecesse, não agora, mas estávamos, ele tinha só 83 anos, mas estava bastante debilitado e com o nível de consciência baixíssimo, além de entubado, sondado, etc, e ele era, antes, muito ativo e presente, ele não suportaria se ver assim.
Passamos o sábado á tarde e à noite, e o domingo em função do velório e do sepultamento, consegui encarar com serenidade e um pouco de tensão esse período.
No sábado de manhã e no domingo de manhã, e também na sexta à noite, trabalhei intensamente na monografia, e no domingo à tarde meu noivo colocou nela todas as tabelas que eram necessárias. Então, no domingo à noite, depois de mostrar a monografia pronta para minha tia (ISSO MESMO, PRONTA!), e de ela modificar um parágrafo da conclusão, EU ENVIEI PARA MEU ORIENTADOR! Que alívio!!!
No domingo eu e meu noivo também arranjamos tempo de ficar abraçadinhos, foi muito bom, estávamos precisando disso. E no domingo à noite fui com duas amigas descontar toda a minha ansiedade em comida japonesa. Comi tudo e muito.
Hoje começa uma nova etapa, quem sabe também etapa de diminuir de novo a compulsão e me preparar para conseguir guardá-la na caixinha de novo? As calças de caminhar já estão prontas...
Bom dia a todos.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Consulta à obstetra

Cada vez que lembro que minha filha passou na Universidade Federal dá um orgulho de vê-la feliz e com um excelente caminho a trilhar pela frente!
Hoje fomos à consulta com a obstetra, eu e meu noivo. Fomos conversar sobre o que aconteceu e sobre os passos a seguir.
A consulta foi demorada e esclarecedora, ainda bem. Acho que tirei as dúvidas que me deixavam tensa e ansiosa. Claro, não que isso vá me impedir de ficar tensa e ansiosa, acho que incorporei esses novos adjetivos e estou com dificuldade de me livrar deles!
Os dois abortamentos podem ter acontecido em função da minha idade, e nós até poderíamos tentar mais uma vez engravidar. Se acontecesse o terceiro abortamento aí sim, caracterizaria de vez problemas genéticos. Mas nós ficamos com a opinião de minha médica, que é igual à nossa, esperar por um terceiro abortamento para procurar causar é demais para todos, principalmente para mim.
Então, vamos investigar possíveis causas:
Primeiro eu farei exames de sangue, de rotina e também imunológicos(principalmente). Aqui, o plano de saúde cobre.
Ao mesmo tempo faremos, eu e meu noivo, exames genéticos do cariótipo, para tentarmos encontrar em um de nós dois traços genéticos que justifiquem os dois abortamentos espontâneos. Custará R$400,00 para cada um.
Como terceiro passo, procuraremos um determinado geneticista, que vem ao nosso Estado uma vez por mês. A consulta custa R$130,00, sem recibo.
Em seguida, como quarto passo, faremos (se uma causa não foi descoberta ainda nos exames anteriores), um exame aloimune, que ainda não sei quanto custa.
Um outro ponto importante, que tem a ver com a gravidez no futuro, é eu estar menos pesada. Levei um puxão de orelha da médica, que estou com ela há 19 anos, reclamando do peso que ganhei este mês.
Expliquei a ela que, entre continuar pirando, triste e depressiva, escolhi me segurar na bengala da compulsão, mas que o preço é engordar.
Ela entendeu e me mandou emagrecer assim mesmo, se eu quiser engravidar no futuro.
Bom, é isso.

Fera Federal!


Minha filha passou no vestibular de direito da universidade federal.
VIVAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Ver o esforço dela recompensado da um gosto!!!
E mais: saber que na universidade federal ela terá muito mais oportunidades de crescer na carreira que escolheu, uma universidade pública, gratuita e, de fato, de qualidade!
Na noite da terça ficamos nós duas assistindo seriados no computador até tarde, tentando enganar o tempo, pois o resultado sairia às 10h do dia seguinte.
E quando vimos sua aprovação demos pulos e gritos de alegria, chorei e ri ao mesmo tempo.
Parabéns, filhota amada!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Trechos

Estou terminando o livro de Ingrid Betancourt, na época acompanhei de longe e sem me prender àquilo, as reportagens sobre sua libertação.
Porque meu pai ganhou o livro que ela escreveu sobre seus anos de cativeiro, hoje consigo compreender o seu sofrimento e dor, e sobretudo o quão forte ela é.
Quero guardar aqui uns trechos que ficarão em minha memória:

"Alguns fatos são dolorosos demais para ser contados: revelando-os, nós o revivemos de novo. Temos então a esperança de que, com o passar do tempo, a dor desaparecerá, e que em seguida será possível partilhar com outros aquilo que vivemos e nos aliviarmos do peso de nosso próprio silêncio. Mas, volta e meia, quando não há mais sofrimento na lembrança, é por respeito a si mesmo que a gente se cala. Já não sentimos a necessidade de desabafar, e sim a de não arrasar o outro com as lembranças de nossas próprias desgraças. Contar certas coisas é permitir-lhes ficar vivas no espírito dos outros, quando o que afinal nos parece mais conveniente é deixá-las morrer dentro de nós mesmos".

"enquanto a mãe de Marc falava, reconheci a expressão dele, aquela dor da ausência que se transformava em beatitude, aquela necessidade de absorver cada palavra como um alimento essencial, aquela rendição final para mergulhar sem reservas na felicidade efêmera... porque as palavras de uma mãe são mágicas e penetram na nossa intimidade, apesar de nós mesmos".

" - Eu não acredito em Deus.
- Não faz mal. Ele não é suscetível. Pode chamar igual. Se Ele não responder, chame a Virgem Maria, ela sempre está disponível".

"Foi então que ouvi sua voz. Ele estava ali, a poucos metros de mim. Não podia vê-lo, mas o sentia. Era o cheiro dos seus cabelos brancos que eu beijava ao ir embora, toda noite. Estava de pé à minha direita, tão grande, tão sólido como uma daquelas árvores centenárias que me cobriam com suas sombras, tão grande, tão sólido como elas. Olhei em sua direção e uma luz branca me cegou. Fechei os olhos e senti as lágrimas escaparem, rolando devagar em meu rosto. Era sua voz sem palavras. Cumprira sua promessa".

"Voltei mais longe em minhas lembranças, e vi meu pai junto a mim, murmurando em meu ouvido: "Não há silêncio que não termine".
Não foram as perfusões que me curaram. Foram as palavras! Eu reencontrava a mim mesma, no meu jardim secreto, e o mundo que eu vislumbrava pela escotilha de minha indiferença me parecia menos insano".

Compulsão parte 1.000.000

Ontem não me pesei.
Ontem tinha pensado em ir caminhar de calça normal mesmo, não fui.
Ontem segurei a compulsão até umas 15h30, depois saí com tudo. E olhe que para segurar eu cheguei a cheirar longamente um bolo de chocolate, me senti uma alcoólatra precisando desesperadamente beber mas ainda medindo forças com o desejo irrefreável. Consegui segurar por um tempo, depois atolei o pé, não, me atolei inteira na compulsão.
O restante... deixa ver o que restou...???
AH! Sim, fiquei de bom humor!
Pensei em coisas positivas!
Conversei e sorri com minha filha!
É, diria que o dia ontem foi 50%. Cumpri 50% do que desejava. E, como diz minha filha:
- Para quem não tinha nada, a metade é o dobro!
Tá, sei que estou brincando com coisas sérias, mas por acaso se eu ficar séria eu cumpriria o que preciso com mais afinco? Não, então, é melhor descumprir sorrindo.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

INÍCIO DE 2012

Meu ânimo já melhorou bastante!
O meu problema agora é a compulsão, ela está um trem desgovernado e me colocando em risco. E olhe que não estou falando apenas em minha saúde, estou falando em minha própria vida.
Vou tentar enxergar algumas coisas positivas para reafirmar que estou agindo, e sei que estou, no sentido de sair desses sentimentos negativos.
Primeiro, o que estou fazendo de negativo?
- Estou comendo desenfreadamente, principalmente doces, e estou com diabetes ainda gestacional.
- Já engordei quase tudo o que perdi, uns 8 quilos, eu acho. Tenho que me pesar hoje para enfrentar.
- Estou me achando velha, estou em crise com isso.
- Me boicoto nos sonhos, me vejo inferior, em situações em que sou escanteada.
- Nos sonhos as outras mulheres são mais bonitas e interessantes que eu para o meu noivo. Também coincidiu que descobri que ele andou olhando suas ex-namoradas no facebook. (sei que isso soa idiota, afinal, nós também não olhamos? No orkut eu já procurei sim e já olhei, mas isso quebra um pouco o sonho, a fantasia idiota que todos nós gostamos). Talvez esses pensamentos não sejam tão idiotas, 1/4 dos casamentos na Europa terminam por causa de descobertas de conversas em redes sociais, o que não foi o meu caso.
O QUE ESTOU FAZENDO PARA ENFRENTAR OS MEUS MEDOS?
- VENHO ME FORÇANDO PARA MELHORAR A CADA DIA MEUS PENSAMENTOS E AÇÕES, E ESTÁ FUNCIONANDO,ONTEM MINHA FILHA PERGUNTOU, EM FUNÇÃO DO MEU JEITO PRATICAMENTE NORMAL, SE JÁ TINHA PASSADO A MINHA TRISTEZA.
- PROCUREI MINHAS AMIGAS E VOLTAMOS A NOS ENCONTRAR, FOI COMO SE NÃO TIVÉSSEMOS NOS AFASTADO. ESTÁ SENDO ÓTIMO.FALTA ENCONTRAR APENAS UMA AMIGA DA QUAL ME AFASTEI MUITO, E FAREI ISSO AINDA ESTA SEMANA.
- MINHA FILHA VOLTOU DA PRAIA POR UNS DIAS, E APESAR DE ELA TER ME MAGOADO (e eu também a magoei, mas não na mesma intensidade), ENTENDI QUE ELA NÃO TEM MATURIDADE PARA ENTENDER A PROPORÇÃO DAS COISAS QUE FALOU. AGI COMO ADULTA, SEGUREI A VONTADE DE COBRAR DELA SOBRE O QUE ME DISSE, E ESTAMOS NOS DANDO MUITO BEM.
- FUI NA COSTUREIRA ONTEM E PEDI URGÊNCIA PARA PELO MENOS UMA DAS CALÇAS DE CAMINHAR, AMANHÃ ELA ME ENTREGARÁ. E PRETENDO COMEÇAR AMANHÃ OU QUINTA A ANDAR.
- ESTOU FAZENDO A MONOGRAFIA, ESTA SEMANA ELA FICA PRONTA PARA REVISÃO.
- TIVE UM FINAL DE SEMANA DE MUITA INTIMIDADE, AMOR E COMPANHEIRISMO COM MEU NOIVO, ESTOU TENTANDO EVITAR PENSAMENTOS NEGATIVOS EM RELAÇÃO A NÓS DOIS.
- HOJE (ESTA É A PARTE MAIS DIFÍCIL) TENTAREI NÃO COMER BESTEIRAS. TENTAREI COM TODAS AS FORÇAS.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Compulsão à toda

Estou bem, apenas sinto medo. E insegurança.
Hoje de manhã não prestei atenção e tomei o remédio da diabetes que deveria tomar à noite, fiquei estressada e com medo.
A sensação de estar deprimida está indo embora, embora ainda sinta sua respiração em meu pescoço.
Ontem ganhei flores, e tivemos um jantar legal, legal? É, legal. A nossa sintonia está legal. Legal é legal, é bom? É, é bom, não ótimo. Estou com saudade de me sentir animada, viva, sem problemas para resolver e me preocupar, e sem estar envolvida nos problemas dos outros. Alguém vive sem problemas? Acho que não, aí estaria morto. Então, gostaria de estar com problemas mas ao mesmo tempo não deixar que eles me dominassem, gostaria de me divertir, de sentir leveza, de sair com amigos, mas eu fiz isso ainda esta semana e na semana passada, eu saí com amigos! Então eu sou uma idiota louca.
Mas a compulsão está à toda. Completamente instalada, nem parece que há meses, pelo menos cinco meses, ela vinha controlada.
ELA PARECE UMA LOUCA DESVAIRADA QUE ME DOMINA. A COMPULSÃO.
E está saindo a tristeza e entrando a baixa auto-estima e a insegurança com a minha imagem e com a minha idade e com medo de não ter dinheiro suficiente para arcar com as despesas do mês, e de não ter dinheiro para fazer o tratamento para ver o que houve com as gravidezes, etc, etc, e e outras tantas merdas que minam minha sensação de segurança e auto-estima.
ISSO É ASSUSTADOR! MINHA LOUCURA É MINHA CABEÇA, MEUS PENSAMENTOS.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

(Des) e equilibrio


Ontem à noite tive um sonho estranho, estranho e intenso, e bom. Só não consigo lembrar de tudo.
Lembro que estava muito bem com minha filha e isso me dava uma sensação tão boa! Era uma sensação de tanto companheirismo que eu não queria acordar.
Depois sonhei que tinha ido a uma psiquiatra e conversava com ela sobre eu precisar ou não de medicamentos para conseguir voltar ao meu estado normal.
Eu contava a ela que sentia que estava melhorando, mas que ao mesmo tempo estava instável. Num momento eu me sentia completa, sentia a unidade da minha vida e das pessoas que dela participam, e me sentia bem e normal e com as emoções, coisas e pessoas no lugar certo. E num momento depois, sentia falta de elo entre tudo o que participa da minha vida, e me sentia extremamente sozinha, e que isso já não causava mais angústia, e sim mais e mais vontade de me isolar, e aqui abro parênteses para dizer que o livro "não há silêncio que não termine", de Ingrid Betancourt, está me fazendo uma companhia imensa nessas horas, e me ajudando a superá-las, mas é claro que o sofrimento dela foi infinitamente maior do que o que estou passando agora.
E eu conversava com a psiquiatra justamente se era melhor eu esperar mais para ver se superava sozinha isso ou se ela achava que eu devia tomar algum remédio. Só que acordei exatamente na hora em que ela ia me responder!
Hoje meu noivo almoçou comigo, e depois de muitas e muitas semanas sem poder e sem dever por causa da gravidez e, agora no final, depois do abortamento, sem eu querer ou ter vontade alguma, finalmente me soltei, senti vontade, e fizemos amor. E isso foi libertador, sem exageros.
Hoje à tarde o sangramento leve e demorado que já estava me exasperando, que me lembrava o tempo todo de morte, foi embora. Acho que fazer amor estimulou o útero a eliminar o que ainda havia, finalmente acabou-se.
Hoje à noite liguei para minha filha e fizemos as pazes, e me senti tão bem! Sempre quis que minha filha fosse mais dura que eu, e assim ela é, mas quando isso se volta contra mim é muito ruim, embora eu não deixe de sentir um certo orgulho dela. Contei com detalhes um fato que aconteceu hoje, e assim voltamos a fofocar e sorrir e conversar. Claro que rimos muito das reações, mas isso depois do susto:
Eu estava em casa fazendo a monografia quando chega um funcionário da loja gritando por painho dizendo que ligaram para minha mãe dizendo que me sequestraram e que estão com um revólver na minha cabeça.
Meu pai, que estava na sala, me chamou bem alto: - MULHERRR???
E eu:
- Oi pai!
E ele me conta rápido e sai em direção à loja. E troquei de roupa e fui atrás dele.
Quando saímos na calçada tem um carro da polícia com os dois policiais com armas em punho para me salvar, eles haviam sido chamados quando iam passando...
E meu pai disse: - Obrigado, mas foi um trote, é ela a sequestrada... e então minha mãe vinha na calçada: pálida, chorando. E eu me abraço com ela.
E todos os funcionários da loja também estão na calçada, alguns choram também. E eu me abraço também com quem está chorando e digo que foi só um trote.
E as pessoas passam e perguntam o que foi, e dizemos, e eles dão graças a Deus (e nós também).
E depois de muitos e muitos copos de água com açúcar para acalmar todos, começamos a rir das reações:
- Um se trancou no banheiro de trás para ligar para a polícia.
- A secretária daqui de casa fechou a casa bem rápido sem entender o que gritavam.
- Minha mãe, que na hora de conversar com os 'sequestradores' fora dura, firme e tensa, chorava e ria contando a conversa.
E o melhor de tudo é que ainda na ligação disseram a minha mãe que eu estava bem e em casa, então deu tempo dela chamar todos os palavrões que queria e podia com os safados!
Hoje de noite resolvi sair e ir para a casa do meu noivo. Fiz uma tempestade num copo d'agua porque fui contrariada em minha vontade imensa de sair para comer sushi. Eu ia dormir lá e vim embora para casa, puta da vida. De fato, minha atual instabilidade está se chocando o tempo todo com a instabilidade habitual de vontades dele.
Eu estava crente que iríamos sair e estava contando os minutos. Ele foi enrolando, enrolando, por fim fez um sanduiche para mim e me chamou para assistirmos um filminho. Pronto, peguei minhas coisas e saí.
E imediatamente me senti isolada e sem unidade, e quis voltar para casa.
Mas já faz quase duas horas que isso aconteceu, e já consegui recuperar minha harmonia e unidade (isso tá zen demais!), já dá para ligar para nos entendermos.
Vou fazer isso agora.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ainda ontem minha filha foi viajar com a família da melhor amiga e eu sequer consegui me despedir no momento em que ela saiu. Eu precisava desesperadamente dormir. Quando acordei ela já havia ido.
Ontem de manhã saí com ela para resolver algumas coisas pendentes para que ela pudesse viajar.
Ontem no final da tarde, quando acordei, me senti horrível. E vi que estava descendo rápido demais a ladeira, então comecei a pensar numas quinhentas formas de reagir.
Peguei rivotril com minha mãe para usar à noite, meu pai me disse que rivotril não é o remédio correto para depressão. E eu respondi:
- Eu sei, pai, estou com psiquiatra marcado para fevereiro, mas acredito que daqui para lá eu já estarei melhor e não precisarei tomar remédio.
E liguei para meu noivo, e conversamos, contei sobre as dúvidas, medos e sobre a conversa que tive com minha filha. Ele me acolheu, me disse que fosse atrás dela, que recuperasse o que estava perdendo. E ao mesmo tempo me afirmou que amadureceu bastante nesse tempo que estamos juntos, o que é verdade. Me senti aliviada por nossa conversa ter sido de entendimento e acolhimento.
Minha filha é muito mais dura que eu, numa discussão ela raramente sai da posição de vencedora, e demora muito mais que eu a amolecer. Mesmo assim tentei ligar para ela mas não consegui entrar em contato.
À noite uma amiga me ligou, eu estava me esforçando para reagir e enxergar as coisas com esperança e por um lado menos obscuro. Ela me chamou para comer caranguejo, e foi a melhor coisa que pude fazer por mim. Sei que minha dieta anda uma droga, e que preciso desesperadamente voltar, mas ontem isso me aliviou muito.
Até agora ainda não comi besteiras, está "pau" segurar, mas vou tentando.
Hoje minha filha ligou, disse que não estava com o celular ontem. Tentei fazer as pazes, pedi desculpas, ela aceitou e falou pouco, de uma forma meio mecânica. Ela é dura, talvez demore bastante tempo para voltar ao normal comigo, talvez não, não tenho a menor ideia. Gostaria muito que ela perdesse mais rápido a defesa desnecessária, mas não posso fazer além do que já fiz.
Paciência.
Acho que estou conseguindo me segurar sem descer, e isso já requer um grande esforço.
Por enquanto, é o que posso fazer.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

constatações

Minha filha tentou conversar, não conseguiu acesso a mim. Estou sem vontade e sem ânimo de qualquer diálogo. Estou magoada.
Tento me compreender e não consigo, só consigo chorar e chorar.
Ela tentou me dizer que só falou porque eu insisti e perguntei, e tentou explicar que aquela era a opinião dela, o sentimento dela, e que não era a realidade, a minha realidade, tentou me mostrar que ela falou apenas da percepção e dos sentimentos dela, e que ela me apoiaria em tudo o que eu precisasse. Que me apoiaria em tudo, sempre, mas que ela tinha o direito de ter opinião própria, e que a opinião dela não era a realidade estabelecida, que era apenas a versão dela.
Tentamos conversar, minha vontade é apenas me distanciar dela.
A minha vida, vista sob a ótica dela, é muito feia e ruim.
Ela me disse ainda que eu nunca havia dito que pensávamos em comprar um terreno ou uma casa, que eu nunca conto os nossos projetos. Eles existem mesmo?
Estou me sentindo só, uma solidão que dói, que dói e é feia.
Não sinto nada bom, só mágoa e vontade de me isolar. Dei graças a Deus por meu noivo não ter tido a ideia de passar por aqui hoje.
Minha filha disse que eu a estou desconhecendo, não é isso, eu já não estava bem, e ela me mostrou uma versão da realidade muito feia sobre a minha vida.
Me senti feia, invadida.
Achei que ela estava de cara fechada porque estava com algum problema e precisava de ajuda. Não imaginava que o problema dela era a minha vida.
Sou emotiva em excesso, estou triste, magoada e doída.
Normalmente, quando tenho um desentendimento, fico tentando chegar logo a um consenso, fazer as pazes. Não dessa vez, não consigo. Amanhã, graças a Deus, ela viajará de férias com a família da melhor amiga, conto as horas para isso acontecer.
Preciso de um tempo sem ela. Preciso de um tempo completamente sozinha, pena que isso eu não terei, gostaria que meu noivo também viajasse.

iceberg

Tenho que a partir de hoje voltar para a minha dieta. Estou com edema pronunciado nos dois pés, ontem passei mal com dor de cabeça, tensão nos ombros e só melhorei quando vomitei de novo quando cheguei em casa.
Chamei minha filha para conversar, pedi que ela me contasse o que está se passando, porque ela está de cara fechada e tristonha. Ela me disse que era melhor não conversarmos, que era melhor eu descansar, mas eu insisti e ela se abriu, chorando, dizendo que iria me deixar mais triste e que não queria isso. Mas falou.
- Disse que desde comecei a namorar com meu noivo nós duas deixamos de ser uma dupla, que não se sente parte do trio, que algumas vezes se sentiu fazendo parte, mas que por uma merda qualquer, por uma bobagem, tudo muda sem necessidade e eu me tranco com meu noivo e ela fica de fora. Que desde que nós começamos a namorar que eu venho mudando, ficando mais reservada e introspectiva e me afastando dela.
- Disse que vai passar, mas que não está suportando a presença dele, que não entende como nós a desconhecemos tão facilmente, que está chateada com ele desde que eu fui tirar as dores dele por uma brincadeira que ela tirou quando ele estava levando ela e as amigas para a boate. Ela disse que ele brinca o tempo todo com ela, então, de repente ele cisma com uma coisa qualquer e fica puto da vida e se afasta achando que ela agiu de má fé.
- Disse que sabe que não é problema dela, mas que isso a preocupa muito: como eu pretendo ter outro filho dentro da casa de meus pais? Como? Se até a loja vai ser desapropriada? E não se sabe como será ainda? Que ter ou não ter um filho é minha decisão e minha vida, que ela não está tentando me influenciar em nada, mas que se preocupa muito.
- Disse que sabe que é a minha vida, que ela me vê infeliz morando dentro da casa dos meus pais, que sabe o quanto eu gostaria de não depender deles e de sair, mas que não me vê fazendo um movimento nesse sentido, e que acha meu noivo acomodado na situação em que vive, que não nos vê nos somando para mudar a ordem estabelecida. De fato, ele falou algumas vezes em procurarmos um terreno ou casa bem barata para comprarmos com financiamento, para no futuro darmos entrada em um apartamento, mas ao mesmo tempo ele sempre deixou claro que não pretende ir morar num bairro distante e sem conforto. E eu, o que pretendo? O que quero? O que posso?
- Disse que está muito preocupada se vai passar ou não no vestibular, que sabe que pesará financeiramente se ela não passar, que está preocupada em trabalhar.
- Disse que não me via falando em outro concurso, em estudar para outro concurso.

Tentei raciocinar e conversar, mas me sentia muito cansada.
- Disse a ela que a minha decisão de ter outro filho ou não em nada mudaria a vida dela, mas que eu não poderia deixar de tê-lo se era um sonho meu, e que eu teria pouco tempo para isso. E que se depois eu tivesse as condições ideais o tempo de eu ter já teria passado. E ela respondeu que entendia isso, que jamais me diria para não ter, mas que se preocupar era normal e que isso estava preocupando ela.
- Eu disse que não sabia se daria para morar sozinha logo, que entendia que ela estava falando, aos 18 anos, em morar sozinha, porque eu havia prometido que iríamos morar sozinhas e isso nunca aconteceu. Ela me respondeu que não era por isso, que ela pretendia ,assim que pudesse, ir morar sozinha porque é uma vontade dela. E que isso nada tem a ver comigo, que se preocupa comigo porque sabe que eu quero sair de casa e não saio, mas que isso é ou não um projeto meu, e que se eu quiser ficar mais dez anos na casa de meus pais ela não fará o mesmo. Que ela quer morar sozinha e vai fazer isso assim que puder.

Sei que uma parte do que ela diz é verdade, que eu, ela e meu noivo muitas vezes não nos somamos. Que ele tem enorme dificuldade de assumir um posto de responsável e adulto, que ele é filho, muito mais filho que qualquer outra coisa, que ele é muito mais filho do que noivo ou padrasto. E que talvez seja tarde demais para ele tentar deixar de ser filho, pelo menos em relação a minha filha. Muitas vezes ele compete com ela por minha atenção e não entende que tenho responsabilidades e obrigações e cuidados em relação a ela.
Sobre nós duas, sei que perdemos, é verdade, que muitas vezes deixamos de uma dupla, pelo menos como éramos antes. Mas ao mesmo tempo me lembro dos dois meses que antecederam ao vestibular, ela dormindo toda noite no meu quarto, eu dando todo o apoio que podia dar. Lembro da semana retrasada, quando ela teve um problema emocional em relação a um namorado do passado, lembro de nós duas conversando muito aqui no quarto.
Deixamos de ser uma dupla? Até que ponto?
O que eu faço?
Como eu resolvo?
Não sei, de fato, não sei, estou a ponto de explodir.
Ontem à noite senti que ela precisava de colo, de apoio e entendimento para aliviar tantas dúvidas e preocupações, talvez demais para uma menina-mulher de 18 anos, mas eu estou tão esgotada que apenas disse que entendi o que ela quis dizer, só que naquele momento eu estava esgotada, eu não tinha nada para dar ou receber.
E assim acordei hoje, quebrada, com a musculatura do pescoço rígida e com dor de cabeça.
A vontade é imensa, gostaria de tomar um rivotril e passar o dia deitada. Não posso.
Hoje é dia de pegar na monografia.

domingo, 1 de janeiro de 2012

dia 31 de dezembro de 2011

O último dia do ano foi bom, é. Bom.
Na véspera de natal fiz em casa mesmo tudo o que faria na loja de meus pais.
Na véspera de ano novo fui trabalhar na loja, deu para ir, e fui muito bem recebida por todos os funcionários que vieram me ver ou falar comigo. Uma disse que eu estava fazendo falta comandando os doces e me beijou, outra veio dizer que não gostava de me ver calada, outro me chamou para almoçar assim que fez o almoço. É bom se sentir querida, quando a gente está nesse estado meio sonolento de tristeza esquece de como era, esquece que fazia brincadeiras e animava o ambiente, simplesmente eu me esqueci de como sou normalmente, as vezes me lembro através dos comentários de outras pessoas, ou me lembro quando faço alguém rir com um comentário meu no meu atual estado de espírito.
Durante a semana fiz uma viagem curta com uma amiga, eu, ela e o marido, além da filha dela, nos damos muito bem e fui recebida com carinho e amizade. Foi muito bom.
Outra amiga me magoou, mas amigos se magoam as vezes, mas ainda estou sem acreditar: ela me ligou para desejar feliz ano novo e perguntou por mim, como eu estava, eu disse que andava triste mas que estava melhorando, e mudei o assunto para perguntar sobre ela, que havia estado doente com infecção urinária, e pedi desculpas porque da última vez que nos falamos tive que desligar porque a minha terapeuta havia me chamado. Pronto, abri brecha para um inquérito:
- Terapia? Onde, quanto, é boa, está te fazendo bem? Também estou querendo fazer.
E eu expliquei tudo o que ela queria e me ofereci para ir com ela.
E daí começou o interrogatório, e olhe que eu havia dito que estava numa fase tristonha mas que iria passar e me voltei preocupada com ela, que mudou o assunto e deu um jeito de continuar:
- E 2012? Vai estudar para outro concurso?
- Quais são seus planos?
- Ou vai focar com tudo em tentar ter outro filho?
- Já receberam o aviso de desapropriação da loja?
- Seus pais vão abrir em outro lugar?
- Já sabem onde vão morar?
- Você já está podendo subir escadas para vir aqui? Precisamos nos ver! Você está podendo sair?
E eu me sentindo bombardeada, respondo sim, não, não sei ainda, minha médica será na quarta-feira... e ela insistindo, até que eu disse, mulher, hoje eu ainda não sei de nada, hoje eu não sei de nada ainda. E ela:
- Pôxa, melhore, viu? Então,feliz ano novo, bla bla blá...
E eu respondo com bla bla blá e desliguei magoada.
À noite minha mãe tinha providenciado jantar, que veio da loja, e minha irmã e família, meu irmão e namorada, meu noivo e meu sogro, vieram para cá. Foi tranquilo, leve, familiar e aconchegante. Acabou umas 22h e eu, meu noivo e minha filha fomos olha os fogos na praia.
Minha filha de cara fechada de sono, meu noivo carinhoso e eu tentando desesperadamente não me entristecer. Vimos os fogos e voltamos para nossas casas. Foi bom.
Hoje de manhã minha mãe me beijou de novo, achei estranho e bom ela me tratando com mais carinho que o habitual. Logo em seguida me lembrei de uma frase que meu pai disse uma vez (essa frase é americana): "não existe almoço de graça".
Enquanto eu organizava um pouco da casa com ela, ela me falou que amanhã o caixa da loja estará de folga e que ela estará ocupada organizando a loja. Eu respondi que não poderia ir, que não estava pronta para atender clientes no balcão e sorrir para eles. Então ela me falou para eu dizer para minha filha ir, e eu respondi:
- Mãe, converse com ela você, eu não vou fazer isso.
Minha mãe agiu como se minha filha fosse uma extensão de mim, como: se eu não posso ir para a loja, é obrigação minha arranjar quem vá no meu lugar.
Não é obrigação minha ir para a loja, estou de licença de saúde do meu trabalho, e estou e tenho o direito de ter tristeza ou depressão ou o que caralho seja o que eu estiver tendo.
Então, ela começou a dizer que o caixa da loja, a partir da próxima semana estará de férias... e e eu cortei explicando que voltarei a trabalhar daqui a duas semanas, e que terei este tempo para fazer a monografia.
E ela disse:
- Eu quero viajar no final de semana que vem, então, será necessário você ir para a loja.
E eu respondi que não estava pronta para trabalhar no balcão da loja, não estava pronta para sorrir para os clientes que estão acostumados comigo no final de semana, disse que se ela não pudesse conversar para meu irmão ir, eu sentia muito mas não dava ainda para eu fazer isso.
Então ela me respondeu com uma pérola inesquecível:
- MAS ELES NÃO ESTÃO SABENDO O QUE ACONTECEU COM VOCÊ...
Que Deus me perdoe, se puder, mas que filha duma...! Isso me magoou tanto! Isso foi de tanto egoísmo! Senti que ela estava pouco se lixando, se os outros não sabem o que eu estou sentindo, então, eu que me vire para fazer o que tem que ser feito para ela viajar.
Filha duma!!!
(aqui, só eu posso xingar.)