quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Crise existencial


Vou, volto, saio do lugar e volto para o lugar de sempre.
Que porra eu tenho?
Ontem, na terapia, minha terapeuta me disse que eu tenho que encontrar o que me falta, o que eu quero. Sem me forçar, mas tentando me completar.
Não sei.
Eu disse a ela:
- Minha filha passou no vestibular da federal num curso concorrido, e isso me deixou feliz, mas não me completou.
- Cheguei no trabalho e fui tão bem recebida! Meus colegas foram almoçar comigo dois dias, me sinto plenamente aceita. Mas também não é isso.
- O problema não é no meu relacionamento, já acabei outros relacionamentos por esse mesmo sentimento em mim, mas eram relações que não valiam a pena, fiz certo em acabar. Não é isso.
- Estudar para um novo concurso e passar? Vai ser bom, mas não é só isso.
É ALGO MUITO MAIS PROFUNDO E ESSENCIAL.
Tenho me sentido sozinha, não quando estou acompanhada, mas principalmente quando estou sozinha comigo mesma. Minha companhia não está boa para mim.
Sinto solidão, falta. MAS DE QUÊ?
Sinto medo, medo de ficar completamente sozinha. Racionalmente sei que isso não vai acontecer, mas então porque me sinto assim?
Na terça fui com minha amiga e sua filha, cujo pai faleceu no sábado, comer caranguejo, eu disse a ela que podia beber o que quisesse que eu dirigiria. Rimos, choramos, nos divertimos, nos relembramos de seu pai. Acho que fui ótima companhia para as duas. E quando cheguei em casa me deu uma imensa tristeza porque ela vai morar em outra cidade, a duas horas da minha. Me deu uma sensação de perda irreparável e chorei de me acabar. Cheguei a ligar para meu noivo e minha filha ainda choramingando, os dois até acharam que eu tinha bebido e estava emotiva. Nada disso, é um vazio inexplicável.
Não estou suportando perdas. Mas também não é só isso.
Sinto vontade de nem sei o quê. Começo a identificar umas bobagens, mas ainda estou longe de saber o que mais tem nesses meus sentimentos.
Minha terapeuta conversou comigo sobre eu sempre aparentar serenidade e calma para os outros, sobre eu ser reservada e ser um excelente ouvido, que todos gostam de contar coisas a mim, que sei ouvir. Falou comigo também sobre minha reserva, sobre eu não me mostrar , sobre não contar coisas sobre mim, sobre eu, na maioria das vezes, ter me deixado conduzir pelos outros sobre o que deveria fazer, e sobre isso vir mudando de alguns anos para cá.
Ela acha que um dos pontos reside em eu estar tomando as rédeas da minha vida, de estar aprendendo a falar, a me impor, a deixar de apenas ser ouvido, sobre eu me soltar sobre o que sinto, sem ter medo. Sei que venho mudando sobre essas coisas. Antes, as pessoas com quem eu me abria eram meu noivo e, algumas vezes, com minha filha. Para outras pessoas eu apenas ouvia, aconselhava, deixava que dividissem comigo seus problemas e suas vidas, mas eu me colocava acima disso, como se não pudesse me expor, e ficava triste quando não era bem interpretada.
Estou tentando me abrir, mostrar minhas fraquezas, sem ser sempre tão ponderada, calma, sensata. Eu não sou só isso, e representar até para mim mesma está me cansando. Sou gente, amiga, ponderada, boa ouvinte, mas quero aprender a me abrir, a gritar, quero também saber enlouquecer. Mas também não é só isso.
Tenho uma sensação de perda não sei de quê, medo de minha vida passar muito rápido. Mas também não é só isso.
Minha terapeuta diz que, de fato, eu posso estar deprimida, eu disse a ela que marquei psiquiatra para ver se vou precisar de medicamentos, ou não, para sair disso.
Conversamos e expliquei que quando estou acompanhada, fazendo muito pouco esforço (e tenho feito bastante), participo, sou alegre, aceito e sou aceita com facilidade. Me sinto querida. Mas quando estou sozinha tenho que arranjar o que fazer para driblar o vazio e a tristeza, e também tenho tentado fazer isso.
Ela afirma que vê essa minha crise existencial como algo construtivo, como uma mudança interior que irá mudar as coisas exteriormente, e disse que sim, isso dói, e dói mesmo.
Ela me pediu para encarar e sentir, sem medo, sem cobranças, me aprofundando na busca de respostas, mas sem me forçar. Tenho tentado isso.
Em uma coisa eu discordo dela, ela diz que minha compulsão alimentar está em prol de tudo isso que estou passando, e eu concordo, mas acredito que a compulsão alimentar está além disso, ela se alimenta sozinha. Ela, por si só, é uma doença, independente da diabetes ou de eu estar deprimida. Ela, por si só, é o maior risco para a minha vida.
Acabo de ler, acho que pela primeira vez realmente me enxergando completamente nele, o primeiro capítulo do livro do CCA, que fala do primeiro passo. Ao ler, eu estava lá, o livro falava sobre mim. Assim como para milhões de comedores compulsivos anônimos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário