quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

(Des) e equilibrio


Ontem à noite tive um sonho estranho, estranho e intenso, e bom. Só não consigo lembrar de tudo.
Lembro que estava muito bem com minha filha e isso me dava uma sensação tão boa! Era uma sensação de tanto companheirismo que eu não queria acordar.
Depois sonhei que tinha ido a uma psiquiatra e conversava com ela sobre eu precisar ou não de medicamentos para conseguir voltar ao meu estado normal.
Eu contava a ela que sentia que estava melhorando, mas que ao mesmo tempo estava instável. Num momento eu me sentia completa, sentia a unidade da minha vida e das pessoas que dela participam, e me sentia bem e normal e com as emoções, coisas e pessoas no lugar certo. E num momento depois, sentia falta de elo entre tudo o que participa da minha vida, e me sentia extremamente sozinha, e que isso já não causava mais angústia, e sim mais e mais vontade de me isolar, e aqui abro parênteses para dizer que o livro "não há silêncio que não termine", de Ingrid Betancourt, está me fazendo uma companhia imensa nessas horas, e me ajudando a superá-las, mas é claro que o sofrimento dela foi infinitamente maior do que o que estou passando agora.
E eu conversava com a psiquiatra justamente se era melhor eu esperar mais para ver se superava sozinha isso ou se ela achava que eu devia tomar algum remédio. Só que acordei exatamente na hora em que ela ia me responder!
Hoje meu noivo almoçou comigo, e depois de muitas e muitas semanas sem poder e sem dever por causa da gravidez e, agora no final, depois do abortamento, sem eu querer ou ter vontade alguma, finalmente me soltei, senti vontade, e fizemos amor. E isso foi libertador, sem exageros.
Hoje à tarde o sangramento leve e demorado que já estava me exasperando, que me lembrava o tempo todo de morte, foi embora. Acho que fazer amor estimulou o útero a eliminar o que ainda havia, finalmente acabou-se.
Hoje à noite liguei para minha filha e fizemos as pazes, e me senti tão bem! Sempre quis que minha filha fosse mais dura que eu, e assim ela é, mas quando isso se volta contra mim é muito ruim, embora eu não deixe de sentir um certo orgulho dela. Contei com detalhes um fato que aconteceu hoje, e assim voltamos a fofocar e sorrir e conversar. Claro que rimos muito das reações, mas isso depois do susto:
Eu estava em casa fazendo a monografia quando chega um funcionário da loja gritando por painho dizendo que ligaram para minha mãe dizendo que me sequestraram e que estão com um revólver na minha cabeça.
Meu pai, que estava na sala, me chamou bem alto: - MULHERRR???
E eu:
- Oi pai!
E ele me conta rápido e sai em direção à loja. E troquei de roupa e fui atrás dele.
Quando saímos na calçada tem um carro da polícia com os dois policiais com armas em punho para me salvar, eles haviam sido chamados quando iam passando...
E meu pai disse: - Obrigado, mas foi um trote, é ela a sequestrada... e então minha mãe vinha na calçada: pálida, chorando. E eu me abraço com ela.
E todos os funcionários da loja também estão na calçada, alguns choram também. E eu me abraço também com quem está chorando e digo que foi só um trote.
E as pessoas passam e perguntam o que foi, e dizemos, e eles dão graças a Deus (e nós também).
E depois de muitos e muitos copos de água com açúcar para acalmar todos, começamos a rir das reações:
- Um se trancou no banheiro de trás para ligar para a polícia.
- A secretária daqui de casa fechou a casa bem rápido sem entender o que gritavam.
- Minha mãe, que na hora de conversar com os 'sequestradores' fora dura, firme e tensa, chorava e ria contando a conversa.
E o melhor de tudo é que ainda na ligação disseram a minha mãe que eu estava bem e em casa, então deu tempo dela chamar todos os palavrões que queria e podia com os safados!
Hoje de noite resolvi sair e ir para a casa do meu noivo. Fiz uma tempestade num copo d'agua porque fui contrariada em minha vontade imensa de sair para comer sushi. Eu ia dormir lá e vim embora para casa, puta da vida. De fato, minha atual instabilidade está se chocando o tempo todo com a instabilidade habitual de vontades dele.
Eu estava crente que iríamos sair e estava contando os minutos. Ele foi enrolando, enrolando, por fim fez um sanduiche para mim e me chamou para assistirmos um filminho. Pronto, peguei minhas coisas e saí.
E imediatamente me senti isolada e sem unidade, e quis voltar para casa.
Mas já faz quase duas horas que isso aconteceu, e já consegui recuperar minha harmonia e unidade (isso tá zen demais!), já dá para ligar para nos entendermos.
Vou fazer isso agora.

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