sábado, 30 de outubro de 2010

Compulsão

Minha vida está tranquila. Ou mais ou menos.
Nas relações ela está estabilizada.
O problema agora é comigo mesma.
Na maioria dos momentos estou bem. Noutros, perdida.
Perdida não sei porque, com uma vontade imensa de descobrir o que me incomoda, o que não me deixa em paz.
No trabalho tenho uma rotina cansativa que me mantem ocupada, tenho bons colegas, e colegas-amigas bem legais. Nunca almoço sozinha, aceito e sou aceita.
A relação com meu noivo está bem definida. Nos amamos, isso é sólido e verdadeiro.
A relação com a minha filha também se consolidou, ao longo de nossas vidas, na amizade e no respeito.
Tenho um boa família, presente, é nítido que nos queremos bem.
Me dou bem com as pessoas, geralmente sou aceita e espontânea.
ENTÃO, QUE PORRA ESTÁ HAVENDO COMIGO?
Que sensações são essas? Numa hora tranquilidade, noutra vazio, noutra falta não sei de quê, noutra cansaço imenso e vontade de deitar prostrada. Uma sucessão de horas e sentimentos diferentes que me incomodam.
Já conheço onde isso vai dar: estou negligenciando, enterrando mesmo uma parte muito importante de mim.
Esqueci completamente do meu corpo, estou totalmente insatisfeita com a minha casa.
Estou gorda, feia, me sinto horrorosa. Uma mulher que vive e participa, num corpo feito para ficar escondido.
Não adianta, não me aceito assim, não me gosto assim.
E não estou conseguindo mudar.
A comida está me destruindo por minha própria vontade desenfreada.
Sinto saudade de me reunir com minhas amigas de caminhada. Sinto muita saudade de poder exagerar e andar 8, 10 quilômetros numa manhã, conversando potoca.
Sinto saudade da excitação das aulas de power bike, era capaz de acordar muito cedo no sábado para não perder a aula. Era um prazer indescritível ver meu corpo magro e capaz.
O que porra está acontecendo com minha vontade? Já engordei trinta e tantos quilos, aonde irei?
E nosso filho tão planejado? A minha compulsão e o meu descontrole proibirão que ele nasça?
Fiz um monte de exames, colesterol alto, triglicerídeos no limite, nada ainda desesperador, ainda podem voltar para o lugar sem medicação. E porque não faço isso?
Tenho sentido tonturas, todo dia, todo dia. Nada foi explicado pelos exames, nada que justificasse. Apenas tensão.

Diz uma tia minha, que é espírita, que o lugar em que trabalho é cheio de desencarnados, e que tontura, formigamento e dor de cabeça, três sintomas que sinto, são características de suas presenças. Prefiro não ir por este caminho Por via das dúvidas, faço o que ela disse. Tento me lembrar de rezar quando entro e ao sair do trabalho.
Há uns vinte dias, quando meu noivo estava com crises de ansiedade e sono descontrolado, pedi, rezei, exigi, solicitei, que se houvesse algum espírito atrapalhando a sua vida, a sua paz de espírito, que viesse para mim, exigi que viesse para mim, pois acredito que sou mais forte para lidar com isso do que ele.

Bom, deixando estas questões espirituais de lado, falei nelas apenas para não deixar nada de fora, é isso.
Sou Mulher, sou essa mistura de sentimentos.
Sinto saudade da minha parte que estou negligenciando: o prazer de estar no meu próprio corpo.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O que significa?

Não sei o que fazer, não sei o que fazer comigo ou com ele.
Ele diz que é simples, que é só uma fase. Eu não vejo assim, eu enxergo que o problema é muito mais profundo do que eu, mesmo nos meus momentos mais introspectivos e tristonhos, consigo identificar.
É claro para mim que eu liguei novamente, por algum motivo, o botão da autodestruição ao voltar a engordar.
É mais claro para mim ainda que ele, além de voltar a engordar, está com outros aspectos de destruição ligados à toda força.
Se por um lado está demonstrando uma força enorme, já está sem tomar coca-cola há quase um mês, por outro se rebela contra qualquer mudança que o tire de dentro do quarto, e ao mesmo tempo não suporta mais estar lá.
Sei que nos amamos. Também sou madura o suficiente para saber que isso não é o suficiente. É preciso, no mínimo, querer viver, gostar de viver.
Eu sinto, e muito, graça na vida, vontade de viver com tranquilidade e paz. Eu sinto isso com todas as minhas forças, mesmo sabendo que caminharei para a minha queda se continuar comendo desenfreadamente.
Já ele, sinto-o perdido. Perdido em si mesmo, se negando a tentar mudar, cheio de complexos e culpas inúteis. Quero tanto ajudá-lo! Mas a cada vez que eu tento parece que só o afasto de mim.
Estou perdida e sozinha, não sei o que fazer.
Hoje, na volta do trabalho, dei carona a uma colega que acho meiga e terna, é daquelas pessoas que agradam só pela suavidade, mesmo que você não a conheça bem.
Não pedi para ouvir o que ouvi, mas aconteceu novamente. Uma pessoa que não conheço muito abre a sua vida para mim. No caso de hoje, como também já aconteceu antes, fico pensando se é coincidência, ou se é ajuda divina mesmo.
Acho que determinados momentos chegam e servem de lição quando estamos precisando, e isso aconteceu hoje, quando voltei conversando com ela. É bem verdade que ainda não sei bem o que os astros, ou os anjos, ou os espíritos de luz quiseram me dizer com isso, mas ainda estou repensando o que escutei.
Ela me contou sobre o pai dela, que tem 64 anos. E sobre o trabalho que hoje em dia ele dá para ela, ao se transformar quase em um filho. Ela não falou com revolta ou cobrança, apenas com constatação e com análise do que, de fato, é importante na vida.
O pai dela se aposentou aos 54 anos, na época de FHC e as privatizações. E, de repente, ficou ocioso, vivendo dentro de casa e dentro do quarto.
Ele já era uma pessoa reservada, não gostava de festas, aceitava de bom grado apenas as pessoas do seu estreito círculo familiar.
E com esse isolamento ele passou a ficar cada dia mais introspectivo, mais taciturno e chato.
Após três anos de aposentadoria e sem tentar fazer qualquer outra atividade ele teve um ataque cardíaco.
E depois disso não mudou em nada, cada vez mais isolado.
A mãe dela, simples e com menos estudo que ele, tinha mais força e alegria em viver. Só que ela não aguentou tamanha pressão. Aos poucos, com o isolamento, ele deixou de ser terno ou amoroso também com a mulher. Eles se separaram.
Ele se isola e ao mesmo tempo reclama de solidão.
Hoje, após vários exames e médicos, teve o diagnóstico de demência leve, está esquecido das coisas, não sabe controlar o dinheiro ou sequer fazer a feira da semana.
A filha e a mãe (ex-esposa) se revezam nos cuidados com ele.
Minha colega mora com ele e, apesar de fazer o possível para ajudá-lo, ela me contou o quanto é difícil lidar com ele, pois muitas vezes ele só enxerga o próprio umbigo. No mesmo dia em que passa a tarde num shopping, diz para ela, você vai sair? E se eu me sentir mal à noite?
Antes de descer do carro ela me disse: mulher, eu e mainha tentamos ajudar de todas as formas, mas de nada adianta a gente batalhar por ele se ele não quiser se ajudar.
Se ele se sentisse feliz em ser assim, se não dissesse o quanto se sente isolado de tudo e de todos, eu poderia até ficar quieta, mas vendo ele assim eu não consigo.
Ela me disse que, mesmo com todas as adversidades, faz questão de tentar ver a vida com leveza, de ser gentil, de procurar o lado melhor das coisas, pois é só isso que se leva dessa vida.
Meus Deus, essa lição veio para me mostra o quanto eu devo insistir com o homem que amo e que quero ficar com ele para o resto da minha vida?
Por favor, meu bom Deus, me mostre como ajudá-lo. E peço mais ainda, o ajude para que ele queira modificar o que o está destruindo. Por favor, lhe mostre o caminho.
Por favor, eu o amo tanto! Nos ajude.
Acabo de chegar de um encontro com ele. O homem que tanto amo era só amor, amor e reconciliação.
Meu Deus, obrigada, obrigada por nos ajudar a encontrar o conforto, o amor e a cumplicidade que faz parte do nosso relacionamento.
Reforço, de todo o coração, o pedido para que o senhor lhe mostre o caminho e que lhe ajude a ter forças para segui-lo. E que me mostre de que forma posso ajudá-lo.
Obrigada, meu bom Deus, obrigada espíritos ou anjos de luz.
Amém.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Deus do céu, o que eu faço?

A cada dia o vejo infeliz com sua atual condição. Não sei mais de que forma ajudar, não sei o que fazer.
O ócio diário, a falta de perspectiva consigo mesmo, o sono totalmente desregulado, a prevenção com que se volta contra mim quando toco no assunto, a falta de vontade ou condição para mudar o que está estabelecido, o processo que não é tocado em frente nem por ele nem pela mãe dele. Um somatório de culpas inúteis e coisas que destroem qualquer ser humano.
Se eu ficar calada verei o amor da minha vida se destruir. E eu não consigo fazer isso.
Se eu continuar falando, entrarei num cabo de guerra com essa maldita ordem estabelecida e, inevitavelmente, sinto que perderei. Perderei a batalha e o amor da minha vida.
Não tenho certeza de que ele fará questão de ficar comigo se eu continuar incomodando a ordem doentia que está estabelecida.
As coisas são muito loucas. Um acerto proposto pela mãe dele é um negócio relativamente simples, mas ela, ao mesmo tempo em que o propôs, colocou nele uma culpa tão grande e injusta que o mina, o deixa ainda mais vulnerável. Ela mesmo propôs e, por não ter equilíbrio para olhar com simplicidade e clareza o que foi proposto, ela o culpa.
Ele, por sua vez, não quer sequer terminar ou fazer outra faculdade, putz, isso é tão simples de se fazer! E desde quando, ao fazer uma faculdade ou um curso qualquer, é necessário se ganhar dinheiro com isso? Ele não enxerga que está se destruindo, e que ao final desse processo, por fim, ele mesmo irá querer se desfazer do nosso amor?
Posso estar delirando, mas este é o único espaço que tenho para desabafar, pois assuntos tão íntimos eu não teria coragem de conversar com quem quer que fosse.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Homens, às vezes, melhor sem eles

Homens são gatos. Não, Não! Não falo de homens bonitos, ou melhor, falo (isso de falo soa ambíguo quando se fala de homem), mas o que tou falando mesmo é que homem age igual a gato.
Homem, por mais sensível que seja: Acabou a comida?
Vou embora, quero ficar sozinho.
(=acabar a comida significa: já fizemos amor demais, a cama agora ficou apertada para dormirmos abraçados, já fomos ao cinema, já estou com você há dois dias, quero ir para a internet e depois ter a minha cama desocupada para dormir sem aperto)
Homem é prático. O brinquedo perdeu a graça, está na hora de voltar para o canto.
Mulher age mais feito cachorro. A cama está desconfortável, no momento estamos sem dinheiro? Mas temos um ao outro, podemos fazer mais amor, assistir filminho, você vai para a internet e eu vou dormir, etc.
Tou falando da maioria dos homens. Da maioria apenas? Diria que de 90%.
Tou falando da minoria das mulheres. Diria que de 30%, pois a maioria já aprendeu a deixar de ser cachorro e sabidamente também está se transformando em gato.
Um viva! para estas.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sexta, dia 8 de outubro

Ontem escutei meu noivo dizer que ficou olhando fotos minhas do ano passado, no meu aniversário de 39 anos, disse que eu estava sempre com um sorriso de orelha a orelha, em todas as fotos.
Fico pensando que continuo a mesma, que quase sempre estou com um razoável ou até de bom humor mesmo. Não é uma característica minha ser mal humorada, pelo menos na maioria do tempo.

Em todos os sentidos externos, financeiro, de relacionamentos, profissional, de estudos, em todos eles eu estou melhor do que estava no ano passado.
A única coisa que me incomoda e que embota esses outros aspectos é o maldito peso, a maldita compulsão, que me deixa sem paz, que me entristece, que me tira o controle.
Por outro lado, ele também tem compulsão e está se achando feio e com pouca saúde com o peso que está.

Ele está conseguindo uma vitória maravilhosa, que eu, sinceramente, não acreditava mais: deixou de tomar coca-cola. Ou seja, o nosso maior e maldito problema é um só: COMIDA. A PORRA DA MALDITA COMIDA. Enquanto milhares de pessoas passam fome, a nossa maior desgraça é o excesso da porra da comida. Da comida desenfreada, dos doces, da gordura ingerida e acumulada. Isso é tão ridículo e ao mesmo tempo tão sério!
Preciso de ajuda, meu bom Deus, preciso de sua ajuda.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Consulta com a cardiologista


Ontem fui à consulta com a cardiologista especialista em gestação.
Ouvi dela uma coisa que me deixou com uma pulga atrás da orelha, e que na hora, tal qual acontece quando uma terapeuta acerta em um ponto chave do paciente, me deu vontade de chorar.
Putz, ela acertou na mosca!

Ela é bem calminha e elegante, tem uma voz bem mansinha, e depois de dizer que estava triste por ver o quanto eu tinha engordado, disse:

- Mulher, você se preparou com todo cuidado para engravidar, você já pensou que estar engordando é uma forma de negar, que pode ser o seu subconsciente negando a vontade de engravidar?
- O que assusta você?
Na hora me deu um nó na garganta, nunca tinha acordado para isso!
Sei que há anos tenho problemas com comida, sei que tenho compulsão mas, de fato, passei num concurso (não o ideal ainda), fizemos um bom plano de saúde, cumpri a carência necessária, eu e meu noivo queremos muito o nosso filho, então, porque eu estou me negando esta chance?
Pensei e a resposta me veio claríssima.
Sem deixar de lado o fato de que a compulsão existe por si só, ficou muito transparente que tenho medo.

Tenho medo de novamente ter outro filho dentro da casa de meus pais, de demorar a ter condições de me sustentar sem qualquer ajuda, de meu filho precisar da ajuda da minha sogra e ela, de alguma forma, se negar a ajudar, pois meu noivo em parte depende dela financeiramente. E por fim, em muito menor grau, tenho medo de gerar um filho aos quarenta anos, pois apesar de ser até comum isso acontecer hoje em dia, sei que há mais riscos para a criança.
Me sinto madura demais para passar por tudo de novo.
Não quero precisar de ninguém. E sem precisar não poderei ter um filho, pois minha autonomia financeira é insuficiente.
Tenho medo.
Tenho medo e compulsão.

domingo, 3 de outubro de 2010

Amor

Estamos entrando numa fase particularmente bonita, eu e meu noivo.
A intimidade, a cumplicidade maior que pode existir, a da alma, a liberdade para sentir prazer sem pudores, simplesmente por amar e conhecer e confiar no outro, a aceitação, a vontade de estar juntos. Sei que sempre tivemos estes sentimentos entre nós, mas vem acontecendo o aperfeiçoamento da cumplicidade, de uma forma que muitas vezes nos entendemos só no olhar.
Sei que sou abençoada por poder viver este sentimento raro, e agradeço por isso.
Também agradeço por minha filha, que é minha amiga sem que eu deixe de ser mãe.
Ela é forte, decidida, mas ao mesmo tempo terna e precisa de meu apoio. Se eu estou bem e presente ela segue mais tranquila, e saber dessa nossa aliança e cumplicidade me dá mais motivos para ser grata e lutar para melhorar a minha saúde e batalhar por meus sonhos.
Obrigada, meu bom Deus.