segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O medo de sempre da segunda


Tenho medinho da segunda-feira. Isso acontece há anos e anos a fio.
É um saco.
Esse medo perdeu muito de sua força, mas ainda está aqui.
Medo do medo do medo do medo.
Medo de morrer, de ficar doente, de ficar sozinha, de perder pessoas que amo, de meus pais morrerem, de não conseguir me sustentar, medo da solidão, medo por a vida ser muito curta, medo de estar doente, medo por estar gorda, medo de passar necessidade. Um monte de medos idiotas e desnecessários. Medos que não levam a nada.
Mas é sempre, ou quase sempre assim. Basta um final de semana, aliás, basta um domingo aproveitando meus amores e minha família para que esse medo idiota me assalte na segunda de manhã cedo. E olhe que antes era muito, muito, muitíssimo pior, pois ele chegava antes da segunda-feira virar dia, ele chegava de madrugada e me maltratava até de manhã. Hoje só chega de manhã cedo e vai desaparecendo ao longo da manhã de trabalho. Esse meu trabalho me ajudou a dissipá-lo, hoje ele é uma sombra do que já foi, mas ainda está aqui.
O que posso encontrar de bom é que já o conheço, sei que basta eu me levantar e começar meu dia que ele vai se dissipando, que ele vai indo embora, muitas vezes eu nem percebo, e só me lembro dele na próxima segunda-feira.
E agora estou me lembrando (também muitas vezes na segunda lembro dele) de um livro que ganhei de uma tia quando tinha uns 8 ou 9 anos: chapeuzinho amarelo.
Chapeuzinho Amarelo era amarela de tanto medo.
Chapeuzinho Amarelo, amarelada de medo.
Vou contar do meu jeito:
Ela tinha tanto medo do lobo, mas tanto medo, que só de pensar em pensar nele ela já sentia medo.
O medo dela era tão grande que ela chegou a sentir medo do medo do medo do medo do medo do medo do medo do medo do medo medo do medo, do medo.
E esse medo (o primeiro deles) que trouxe todos os outros foi tão grande que ela ficou paralisada, não conseguia andar, não conseguia se mexer, aterrorizada.
E quando ela ficou assim, imóvel, só os olhos se mexendo procurando mais medo, o LOBO, ele mesmo, apareceu na sua frente!!!
O terror dela foi tão grande e ela estava tão paralizada que não conseguiu correr.
Ela só conseguia pensar:
O LOBO!!! O LOBO!!! O LOBO!!! O LOBO!!! O LOBO!!! O LOBO!!! O LOBO!!!
E de tanto terror ela não conseguia encontrar saída alguma, só conseguia pensar:
lobo, lobo, lobo, lobo, lobo, lobo, lobo, lobo, lobo, lobo, lobo... e sua cabeça estava tão cansada que ela esqueceu até das vírgulas:
lobolobolobolobolobolobolobolobolobolobolobolobolobolobolobolobolobolobolobo
E quando achou que era o fim, conseguiu colocar as vírgulas de novo:
lobo, bolo, lobo, bolo, bolo, bolo, bolo, bolo, bolo, lobo, bolo, bolo, bolo, bolo. lobo, bolo...
E de repente, naquela confusão de vírgulas e sílabas trocadas, ela foi achando graça, isso mesmo, um fiozinho de graça no seu imenso medo!
lobobolo! lobobobo! bolo! lobo! bobo!
LOBO BOLO BOBO!!!
E quando menos esperava começou a sorrir, e o sorriso se transformou em gargalhada!
E isso enfureceu completamente o lobo, que começou a rugir feito um louco. Mas era tarde!
A menina tinha aprendido: quanto menos medo tivesse do lobo mais fraquinho ele era, menos medo ele trazia e mais bobo ficava.
E a menina começou:
LOBO, BOBO, BOLO, e resolveu ficar lendo o nome lobo ao contrário, bem alto:
BOLO, BOLO, BOLO, BOLO, BOLO!!!
E o lobo foi ficando pequenininho, com uma voz fininha, sem meter mais medo em ninguém, e fugiu envergonhado.
E a menina amarela de medo aprendeu a ser azul, verde, rosa, aprendeu a controlar seu medo e seus pensamentos.
E foi viver sua vida e sua segunda-feira em paz.



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