sábado, 18 de dezembro de 2010

Desencontros


A viagem de sexta, no início, foi muito difícil.
Ele tentou fazer uma trégua, disse que já que íamos era bom nos darmos uma trégua. Eu estava tão tensa e triste com as coisas que vinham acontecendo que não consegui.
Nessas horas, quando as coisas não vão bem e muitas palavras duras já foram ditas, sinto uma tristeza que me domina, me emudece e me deixa soturna.
Me tranco e me calo, numa tristeza que me corrói e fico com uma vontade enorme de ficar encolhida na minha cama.
Sei que o amo, mais que tudo, e sei que sou amada na mesma intensidade.
Porque tantos desentendimentos? O que está acontecendo?
Sinto insegurança e tristeza.
Sei, porque ele disse, que também se sente inseguro.
Eu sou uma pessoa difícil de lidar? Sinceramente, eu não sei responder, acho que não, mas não sei.
Acredito que há duas diferenças básicas que muitas vezes atrapalham a nossa comunicação.
Para mim, as palavras faladas têm peso, não sei brincar muito com elas. Se alguém me pergunta sobre algo, eu respondo o que mais reflete o que eu acho.
Se alguém pergunta o mesmo a ele, ele é bem capaz de responder o contrário do que acha, depois completa com o que realmente acha e ainda diz o que acharia, se assim o pensasse. Para ele as palavras não têm peso. Muitas vezes ele não tem consciência do quanto me sinto sacudida de um lado para o outro, do quanto eu me perco tentando construir uma realidade que, na verdade, só ele conhece.
E dou um exemplo: nessa viagem para a outra cidade para a festa de casamento.
Primeiro ouvi que eu tinha mesmo que ir porque era uma de minhas melhores amigas.
Depois, quando constatei que só poderia ir de noite, ele disse que iria comigo porque era perigoso eu ir sozinha.
Depois ficou reclamando várias vezes porque a festa era numa quinta-feira, porque que os noivos tinham feito isso.
Depois disse que eu fazia isso com ele muitas vezes, forçá-lo a ir num lugar que ele não quer ir.
Depois disse que eu não havia perguntado se ele poderia ir comigo.
Depois disse que eu o forçava a ir e não havia me preocupado em preparar antes uma forma de eu ir sozinha, sem precisar dele.
Por fim, disse que na verdade ele achava queria ir, que tudo o que havia dito era apenas resistência.
Por fim do por fim, quando explico o que me deixou triste e me afastou, ele diz que eu gravo tudo o que ele disse, que eu faço questão de gravar para jogar na cara dele. E que eu também digo coisas que ele não grava e não joga na minha cara.
Pôxa vida, depois de tanta confusão é tão difícil conseguir encontrar o rumo certo e me sentir bem com ele e comigo mesma!
Depois de tanta confusão me sinto emaranhada, triste, confusa.
Aí fazemos um esforço danado para enxergarmos apenas o amor que sentimos um pelo outro e nos encontrarmos. Conseguimos.
Encontramos nossa afinidade, nos amamos, somos gentis e apaixonados, voltamos a tentar entender o outro pela perspectiva do outro.
Só que essa confusão toda nos deixa fragilizados emocionalmente, qualquer outra mínima coisa que aconteça quebra a sintonia recém- reestabelecida.
E eu fico tristonha, retraída e com medo.
E ele fica retraído e com medo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário