domingo, 12 de dezembro de 2010

Aguente, cérebro meu, o temporal vai passar (eu acho, eu sei, mas, por enquanto, só acho)


Estou numa época de confusão cerebral. Penso demais, chego a me cansar com isso.
Aconteceram tantas coisas! Meus pensamentos não me dão trégua, fico com vontade de gritar um CALEM-SE, mas os bichos têm própria, até dormindo não descansam.
Meu cachorro:
Ontem tomei uma decisão, com influência de fora, muita, por causa do meu pai, isso mexeu comigo mais do que eu quero admitir.
Meu cachorro, o mesmo que eu já falei aqui antes, um de meus três cachorros e também o mais velho, que eu já havia tratado de babesia duas vezes antes, sangrou pelo nariz há duas semanas. Iniciei o antibiótico e o omeprazol e liguei para o veterinário avisando.
Uns dez dias depois, mesmo com o antibiótico, segunda dia 6, ligaram de casa para o meu trabalho avisando que ele teve uma convulsão e que estava com a respiração fraquinha. Liguei para o veterinário, saí do trabalho e levei ele lá, ele explicou que foi por causa da doença e da febre, foi prescrito dipirona injetável duas vezes ao dia e só, que segui a risca.
Cuidei dele de todas as formas que podia, o alimentei três vezes por dia, dei banho nele deitado, medicação para dor, calmante para dormir á noite. Mas depois da convulsão ele, de repente, passou a ter imensa dificuldade de andar, chorava a noite toda, não de dor, mas acho que por estar desnorteado e se sentir sozinho, ficou meio cego e sem coordenação motora, caindo por cima da comida, da água, anteontem foi descer a rampa e caiu de costas e ficou aperriado, de patas para cima até eu levantá-lo, essas coisas que deprimem olhar... e passamos a dar mais um remédio, para melhorar a circulação cerebral. E nada.
Ontem, quando amanheceu, ele, além de xixado, estava todo sujo de cocô, deprimido mais ainda. Chamei, bati palma, como sempre fazia e nada, ele não conseguia se levantar para que eu conseguisse dar banho e limpá-lo.
Em todos esses dias eu tinha tanta esperança! Porque mesmo lascado ele sempre estava disposto a comer e beber, porque ele batalhava pela vida, e assim eu não tinha o direito de desistir dele. Esperaria ter certeza de que ele havia desistido e que não havia mais esperança para eu desistir também.
E ontem de manhã o vi assim, prostrado, fodido, com dor, todo cagado e mijado, sem conseguir se levantar, sem conseguir mostrar vontade de batalhar mais, 12 ou 13 anos de meu cachorro lindo, amoroso e educado se acabando.
E resolvi fazer o que achava que nunca teria coragem. Liguei para o veterinário e ele disse que meu cão estava sofrendo, que realmente deveria ser sacrificado, e eu concordei, achei que não tinha o direito de querer ele vivo para que eu não sofresse com sua partida, me deu e eu liguei para o telefone do rapaz que sacrifica animais com soro, anestésico e por fim um medicamento que faz parar o coração.
Disse que não teria coragem de ver e perguntei a meu irmão se ele o levaria à clínica, ele disse que sim, mas depois pensei: é muito cômodo para mim deixar que coloquem meu cão dentro de carro e que o façam morrer fora do alcance da minha vista, o centro das atenções agora é dele, não eu. Não é justo que ele tenha que se estressar dentro do carro (é, era um cão grande) e que vá morrer num lugar desconhecido.
Resolvi chamar o rapaz aqui em casa, ele tinha o direito de morrer na sua casa.
Chegou o rapaz de moto com mais dois rapazes e com mochila e uma pá.
Ele chegou e alisou meu cão, tentou ser simpático. Meu cachorro levantou a cabeça e olhou para mim. Em seguida fez um esforço sobrecão e se arrastou para beber água.
Eu o ajudei a se deitar, eu tive que dobrar as patas dele para que ele se deitasse.
Nunca esquecerei disso.
Isso está me corroendo desde ontem.
Meu amores, minha filha e meu noivo, ficaram comigo o dia todo, me fizeram companhia e me apoiaram em tudo.
Sei lidar com a confiança incondicional que os cachorros depositam em seus donos, com a confiança incondicional que meus cães depositam em mim. Não sei lidar com a hora final deles, fico arrasada.
Não tive coragem de ver ele aplicar as medicações, quando voltei para casa ele já estava enterrado no quintal.
Não sinto paz e nem alívio, sinto inquietação e culpa, apesar de achar que fiz o que era certo, eu acho, mas não tenho certeza.
Hoje de manhã, enquanto escrevo aqui, fiquei ouvindo, muitas vezes, um som parecido com o uivo ou choro dele, depois racionalizei e vi que eram sons de vento, provavelmente no prédio atrás aqui de casa.
Me levantei, peguei um banco e fui para o quintal me sentar do lado da cova dele.
Meus dois outros cachorros vieram pedir carinho.
É, o som de choro vem realmente do prédio.
Meu amigo foi embora.

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