sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Solidão II

Não consigo mais acreditar no amor do meu noivo. Estou cansada.
Nesta fase, pedi para nos vermos pelo menos uma vez durante a semana. Há semanas que venho pedindo e dizendo isso sem conseguir.
Expliquei que preciso disso. Não adiantou.
Não deu, não dá, não dará.
Sinto por ele atualmente um amor angustiante, que não me deixa em paz, um amor de sentir falta, de precisar estar junto neste momento, e o que obtenho de volta é uma ausência total, atenuada apenas por telefonemas em que não consigo deixar de cobrar o que não tenho e me faz falta.
Não quero mais passar o domingo com ele, juntos e apaixonados, para depois nos afastarmos completamente, como dois estranhos.
Ou talvez quem esteja carente seja apenas eu, e por isso precise tanto dessa presença que não tenho.
Sei que a mãe dele está com câncer, sei que precisará de muita ajuda.
O tratamento ainda não começou, e fisicamente ela está ótima.
A mãe dele foi abandonada pelo marido quando ele e a irmã eram pequenos, e muitas e muitas vezes ela o coloca como substituto do pai que a deixou.
Ambos se dependem emocionalmente, e financeiramente ela dita todas as regras.
Em resumo, ele é filho-marido-enfermeiro-pai, dela. E agora mais que nunca assumiu todas essas tarefas juntas. E não sobra tempo para mais nada e mais ninguém.
Sei que sou respeitada por ela e sei que ela me quer bem, mas a verdade é que enfrentei resistência para ser namorada dele, depois enfrentamos resistência para ela reconhecer o noivado, depois enfrentamos resistência para ela aceitar que teríamos um filho. Até que dois anos depois, quando a possibilidade desse filho se concretizou ela festejou junto comigo e depois chorou comigo também a perda da gestação. Sobre isso não posso falar nada.
Mas a verdade é que ele foi preparado para ser o que é hoje, e aceitou. E não há espaço para outras pessoas. Não há espaço para mim.
Até quando estamos juntos ela telefona pedindo alguma coisa. Ela não dá espaço, e ele aceita isso com naturalidade, e me afasta e se afasta como se isso fosse inevitável.
Se eu estivesse bem talvez não estivesse me importando em ser completamente posta de lado. Mas pedi ajuda, ele me disse que pedisse se precisasse, e eu pedi, e ele está me virando as costas.
Pedi para nos vermos um dia da semana à noite, além de nos vermos nos finais de semana. Expliquei que estou precisando disso, mas não adiantou.
Se a mãe dele estivesse debilitada, se ela tivesse começado a quimioterapia, eu entenderia essa dedicação exclusiva, incondicional, irrestrita e sufocante. Mas não é o caso, e acredito que não será.
O que sei com toda certeza agora é que há alguém sobrando nessa relação, alguém esperando migalhas de atenção, alguém que se sente tratada como a amante que fica sempre a esperar, alguém precisando desesperadamente acreditar nesse amor. E infelizmente esse alguém sou eu, e infelizmente a cada dia vou me distanciando dele.
E vou criando barreiras para me magoar menos, e vou ficando mais sozinha.

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