sábado, 8 de junho de 2013

Desapropriação e vida nova



Após alguns meses, cá estou de novo.
A desapropriação saiu há quatro meses. O restaurante dos meus pais, que estava há dois anos lucrando após 15 anos que levou para chega à maturidade financeira, foi desapropriado. E  nossa casa, que ficava na mesma rua, uma casa alugada, também foi desapropriada, então, fomos duplamente desapropriados.
Meus pais dividiram o dinheiro, recebi o valor para comprar um apartamento pequeno, mas que será meu de de minha filha. Na pressa, e após ficar íntima de sites de busca, encontrei um apartamento num bom local por um bom preço, infelizmente a proprietária está com problemas para regulariza-lo em cartório, então, estou em um apartamento emprestado pelo meu sogro, eu e minha filha.
O aperto financeiro está imenso, mas não devo e não uso o cheque especial, o que já é de bom tamanho.
É como diz minha filha, em três meses amadureci o que não amadureci em vinte anos. De repente, sou dona da minha casa, sou responsável por mim e por ela, lavo, passo, aprendi a cozinhar.
Aqui no apartamento não cabe uma máquina de lavar, então, braços de lavadeira em uso (os meus braços).
Me sinto esgota, muitas vezes.
Quando meu apartamento sair, será o primeiro eletrodoméstico que comprarei.
Há momentos de intensa solidão, de uma forma que jamais imaginei que sentiria, mas estou levando.
Tenho a mim mesma, tenho também uma filha de vinte anos que é amiga, estudiosa, que tem amigos, que gosta de sair e ao mesmo tempo tem responsabilidade, e sei que isso é muito raro. Tenho uma família presente e pais maravilhosos, não posso ficar me queixando, tenho consciência disso.
É estranho, quando me boicoto, quando estou sozinha por dois ou três dias, imagino que se eu morrer ou passar mal só irão me encontrar 24 horas depois, quando alguém telefonar. Maus pensamentos.
Meu namorado amadureceu, é mais companheiro, é amigo, eu gostaria de ter mais, é verdade, mas sei que não é possível, não com ele.
Nesse momento de mudança de estrutura familiar meu irmão teve que ir morar com a noiva, eles se casarão agora em setembro. Um ajudando o outro, um impulsionando o outro para a frente.
Sei que eu e meu companheiro fazemos isso um pelo o outro, pelo menos dentro do possível. Mas a verdade é que eu gostaria de casar, de ter uma vida mais convencional, com ele provavelmente eu jamais terei.
Sei que a descoberta do problema genético, após os dois abortamentos que tive, o ajudarão a conseguir se aposentar, e posteriormente, muito posteriormente se Deus quiser, pois desejo que a mãe dele viva muito, ter direito à pensão dela. Sei que isso é necessário para ele.
E eu? E nós? Adianta forçar a barra dele e dizer que ele é capaz sim (e acredito que seja de verdade) de arranjar um emprego informal para ganhar dinheiro além da mesada de sua mãe. Ele sempre diz que precisa de uma ocupação... isso seria um hobby? Como uma pessoa pode se contentar apenas com um hobby? Me debato e não encontro saída.
Talvez esteja me sentindo assim só e com isso fico procurando o defeito no outro, e isso está errado. Devo aceitá-lo como é, mas ao mesmo tempo, terei que dizer que estou feliz com essa configuração? Acho que não.
Sei que isso é ridículo, mas algumas vezes me vejo como a amante que fica esperando a brecha entre ele a mãe dele.
Estou sendo injusta? Talvez ou com certeza sim.
Consigo enxergar e sentir o meu amadurecimento, o quanto é grandioso me ver adulta e dona de mim, mas isso dói, dói, dói, também.
Quero mais da vida, não é possível que ela seja só isso. Ou é?

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